por Emanuel Cancella
Pedro Parente instituiu na Petrobrás o “Faça o que eu
mando, mas não faça o que eu faço”!
Entrei na
Petrobrás, através de concurso, no dia 10/07/74, e me aposentei como técnico de
material, 42 anos depois, em 17/05/17. Tenho com a Petrobrás e os petroleiros
uma relação de amor e companheirismo. São muitas histórias vividas e assistidas,
na empresa, e uma delas torno pública.
Foi no final
da década de 70 e início de 80. Um amigo meu de infância me perguntou se havia
concurso na Petrobrás para sua área. Liguei para o serviço de pessoal e me
informaram que estava em aberto um concurso para soldador. Retornei para meu
amigo, que correu, se inscreveu e acabou passando no concurso.
Na Petrobrás,
existe um ditado que diz que, na empresa, é difícil de entrar e de sair. Para entrar na empresa, além do concurso,
na área específica, existe também, para todos, uma investigação social.
E aí retorno
para o meu amigo soldador, que não vou divulgar o nome, pois não me foi
autorizado. Mas sabia tudo da vida dele, pois fomos criados juntos na
comunidade pobre de Irajá, no Rio de Janeiro. O pai dele morreu do coração, em 1960, no Maracanã, quando o América, seu time, foi
campeão.
Fomos padeiros
juntos, nas ruas do bairro e no entorno, dormimos muitas vezes em cima do forno
à lenha da Padaria. Hoje o forno à lenha é raro. Eu vendia pão para ajudar meu pai a criar meus
9 irmãos e o soldador, órfão, trabalhava
para o próprio sustento e de dois irmãos.
Fui
informado, nos bastidores, que o meu amigo soldador estava sendo reprovado na Petrobrás,
na investigação social.
Entrei na
Petrobrás na refinaria de Paulínia e passei grande parte da minha vida laboral
no EDISE, centro do Rio de Janeiro, sede da Empresa, onde cheguei em 1976. No
Edise, fica a Segurança Patrimonial, antiga DIVIN (Divisão de Vigilância Interna).
E lá fui eu à DIVIN saber o motivo da reprovação do meu amigo soldador.
Naquela época
eu já era sindicalista e nunca tinha entrado na DIVIN. Então cheguei ao setor e
nunca vou esquecer os colegas ali lotados que escondiam a cara para não serem
reconhecidos, como se estivessem fazendo alguma coisa errada.
Fui ao encontro
de um militar que estava prestando serviço na Petrobrás. Na época da ditadura militar,
a Petrobrás era infestada de militares, principalmente do exército e da
marinha. E, verdade seja dita, fiz muitos amigos entre esses milicos, apesar de
muitos deles terem aversão a qualquer sindicalista.
Mas voltando,
de novo, ao soldador. Perguntei ao representante da DIVIN qual o crime que o
meu amigo soldador tinha cometido para ser barrado na Petrobrás. Depois de
alguma resistência, o militar disse que ele tinha sido preso em Madureira, subúrbio
do Rio, junto com outro homem. Então perguntei que crime ele cometeu. Vadiagem,
disse.
Para quem
não sabe, vadiagem era crime nos anos de chumbo. Homem ou mulher que andasse pelas
ruas sem a CPTS, também conhecida como carteira de trabalho, sem estar assinada
por um empregador, era sujeito à prisão.
Ponderei
junto ao representante da empresa que, mesmo sem a carteira assinada, meu amigo
soldador ralava, e muito. Imagina se algum padeiro, desses que a gente ainda
hoje vê passar nas ruas, principalmente das comunidades, vai ter carteira
profissional assinada?
Meus argumentos
sensibilizaram o militar e o soldador entrou na Petrobrás, aposentando-se bem
antes de mim, por ter direito à aposentadoria especial, já que era lotado na plataforma de Campos.
Faço esse
relato para cobrar da Segurança Patrimonial da Petrobrás a investigação social
do atual presidente da Empresa Pedro Parente, que é réu, desde 2001, em ação
movida por petroleiro que, segundo denúncia, deu prejuízo de R$ 5 BI a
Petrobrás (3), na ocasião.
Diga-se de passagem, não consta nos manuais da empresa,
que é pública, diferença de
tratamento, quanto à probidade, entre o cargo de
presidente e de soldador.
E mesmo com
esse antecedente, Parente volta e continua a praticar o mesmo crime, vendendo
ativos da Petrobras sem licitação. Vende para quem ele quer e pelo valor que
ele mesmo estipula. E os negócios de Parente envolvem bens valiosíssimos e
estratégicos como área do pré-sal e petroquímicas (1,2).
E na
parceria com a gringalhada, Parente agora faz um acordo na justiça
estadunidense, prejudicial à Petrobrás, no valor de quase US$ 500 milhões (4).
Parente, nesse acordo, de forma dolosa, corrobora com a tese estapafúrdia dos
tribunais americanos que alegam que a queda do valor das ações da Petrobrás foi
por conta da corrupção. Como, se as ações caíram no mundo todo, não só da
Petrobrás?
Nessas ações ja que são 27, a Petrobrás está totalmente sem defesa, pois conta com um presidente entreguista
desses e uma justiça como a Lava Jato que sai em auxílio dos acusadores, já que
convocou os procuradores americanos para investigar a Petrobrás e também mandou
os maiores corruptos, condenados da empresa, para ajudar como testemunhas a
favor dos ianques (5,6).
É no auge do
cinismo, a gestão de Pedro Parente, na Petrobrás, ainda obriga os petroleiros a
assinar um código de Ética e participar de um curso de combate à corrupção, que
Parente também deveria frequentar mas passa longe.
Pedro Parente
instituiu na Petrobrás o “Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”!
Rio de Janeiro, 22 de junho de 2017.
Autor: Emanuel Cancella, OAB/RJ
75.300, ex-presidente do Sindipetro-RJ, fundador e ex diretor do Comando
Nacional dos Petroleiros, da FUP e fundador e coordenador da FNP , ex-diretor
Sindical e Nacional do Dieese, sendo também autor do livro “A Outra
Face de Sérgio Moro”
OBS.: Artigo enviado para possível publicação
para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros órgãos de
comunicação.
(Esse relato
pode ser reproduzido livremente)
Meus endereços
eletrônicos:
Nenhum comentário:
Postar um comentário