por Emanuel Cancella
Nossos juízes e procuradores querem prender as
pessoas sem provas, já na segunda instância. Ao que parece, para matá-las na
cadeia, mas não aceitam nem serem punidos por crime de responsabilidade.
Cazuza lançou essa música em 1988, no governo de José Sarney. Aliás, fui
demitido na Petrobrás nesse ano por organizar uma greve nacional juntamente com
meus companheiros. Na época, eu era da oposição no Sindicato. Fui reintegrado seis
meses depois, não pela justiça, mas pela vontade de minha categoria, em outra
greve.
Cazuza nos encantou com sua irreverência. Morreu, como milhares de jovens, da doença do
prazer, como ele mesmo falou na música: “O meu prazer agora é risco de vida”. Entretanto
suas ideias estão mais vivas do que nunca. Cazuza nos inspirou com essa música
e hoje, em 2016, muito mais do que naquela época, os inimigos estão no poder e,
pior, através de um golpe.
O governo de FHC aplicou as políticas neoliberais que pregam o estado
mínimo e vendeu (ou doou) a maioria de nossas estatais. Mesmo assim, saiu do
governo no segundo mandato pegando um empréstimo com o FMI para pagar salário
de funcionários, de US$ 40B. E essa Privataria Tucana que virou até livro nunca
foi investigada.
Lula chegou ao governo em 2003, desacreditado, seus adversários
apostavam no caos, duvidavam que um torneiro mecânico colocasse o Brasil nos
eixos. Lula não só pagou a dívida com o FMI como viramos cotistas do Fundo. O
governo do PT participou da criação dos BRINCS e do seu banco (Brasil, Rússia, Índia,
China, África do Sul) na direção e como cotista. Assim o Brasil buscava uma
alternativa ao eterno lugar de quintal dos EUA, sem romper com eles. Lula tirou
o Brasil do mapa da Fome da ONU; 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza
e criou uma malha de proteção social que serve de modelo no mundo, como Bolsa Família,
Bolsa Esporte, esta propiciando a conquista da maioria de nossas medalhas, na última
Olímpiadas, no Brasil, em 2016.
Criou o Programa Minha Casa Minha Vida, que realizou o sonho da casa
própria a mais de três milhões de famílias de brasileiros. Dilma deu seguimento
às políticas de Lula e levou médicos às periferias dos Brasil com o Programa
“Mais Médicos”. Através do Fies, Prouni e políticas de cotas, milhões de jovens
pobres passavam a entrar nas universidades e alguns foram estudar no exterior,
pelo programa Ciência sem Fronteira.
No governo de Lula, a Petrobrás desenvolveu tecnologia inédita no mundo,
que permitiu a descoberta do pré-sal. Seus adversários costumam dizer que Lula
deu migalhas para os pobres. Acredito também que, além dos pobres, os bancos
ganharam muito. Lógico, a economia crescendo os bancos ganham mais. Isso no
Brasil e no mundo. Nesses quatros governos do PT se construiu um estado de
proteção social que se não era o ideal, mas seria o pontapé inicial.
Lamentavelmente, usando o mote do combate à corrupção para enganar o
povo, apoderaram-se do país golpistas exacerbados. Aprovaram a PEC 55,
conhecida como Pec da Morte, que congela por 20 anos o orçamento dos Estados, arrasando
assim as politicas sociais, principalmente a de saúde e de educação. Estão
entregando nosso petróleo, nossos aquíferos e nossas terras a estrangeiros.
Por conta do combate à corrupção, milhões de trabalhadores estão sendo
demitidos. Não precisava parar as obras, bastava afastar e até prender os executivos
corruptos, mas manter as empresas funcionando, evitando assim demissões e a
quebra da economia. Entretanto a operação Lava Jato paralisa empresas e obras,
gerando cerca de dois milhões de desempregados e queda de cerca de 5% do PIB.
Falam abertamente em fazer as reformas trabalhistas e previdenciárias
para tirar direitos dos trabalhadores. O outro poder, o Judiciário, onde deveriam
proteger a sociedade, as maiores autoridades jurídicas do STF e do TST
concordam que o negociado prevaleça sobre o legislado. Isso simplesmente quer
dizer adeus à CLT e aos direitos consagrados como férias de 30 dias, o 13º e
semana de 40 horas trabalhada e outras maldades contra o trabalhador. E estão
criando uma fórmula na reforma da previdência que, na pratica, acaba com a
aposentadoria do trabalhador.
Assistimos agora a um massacre numa penitenciária de Manaus e o ministro
da Justiça diz que é contra separar os presos por facções. Juntando presos,
independente de grupos a que pertençam, é como botar cachorros e gatos na jaula
do leão. Eles querem prender sem provas e ao que parece matar nas prisões, mas
eles, juízes e procuradores, lutam pessoalmente para a lei não os punirem por
crime de responsabilidade.
Outro poder, o Congresso Nacional, deixa-nos com saudades dos tempos dos
trezentos picaretas, pois hoje tem muito mais.
A mídia brasileira, na prática, o poder maior, hoje controlada por sete
famílias apoiou e dá suporte ao golpe, manipulando o povo e mascarando as
reformas que destroem o país e nossos direitos. Aliás, a principal delas, a
Globo, apoiou o golpe contra o presidente Getúlio Vargas; apoiou e cresceu à
sombra da ditadura militar que tirou do governo o presidente eleito pelo povo, João
Goulart, e a Globo foi peça central no golpe contra a presidente Dilma.
Cazuza, na música, diz que o seu partido é um coração partido. Neste
momento, muito mais do que de partidos precisamos nos unir. Civis, militares, anarquistas,
comunistas, estudantes, socialistas e conservadores juntos, para salvar o país
desses golpistas, como foi na campanha exitosa do “ O Petróleo é Nosso!”, que
resultou na criação da Petrobrás.
Ou fazemos isso ou, como diz a música de Cazuza, os meus (nossos) sonhos
foram todos vendidos!.
Rio de Janeiro, 04 de janeiro de
2017
Autor: Emanuel Cancella, -
OAB/RJ 75 300
Emanuel Cancella que é da
coordenação do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)
(Esse artigo pode ser reproduzido
livremente)
OBS.: Artigo enviado para
possível publicação para o Globo, JB, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros
órgãos de comunicação.
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