sexta-feira, 15 de julho de 2016

Pré-sal: dormindo com o inimigo



Por Emanuel Cancella e Fatima Lacerda

                                                    

Quando o pré-sal foi anunciado, em fins de 2006, no governo Lula, os Estados Unidos reativaram a 4ª Frota e miraram na direção do Brasil e da Venezuela. Os militares brasileiros, cumprindo dever cívico – preservar e defender o território – aceleraram a construção de um submarino nuclear. Apenas para um detalhe não atentaram: os maiores inimigos da soberania e da nação brasileira estavam dentro do  território nacional.

Hoje eles estão por cima, prontos para entregar o nosso ouro negro. Michel Temer, José Serra, Pedro Parente, José Carlos Aleluia, Romero Jucá, Fernando Henrique Cardoso. Outro que cumpre esse desserviço à nação é o juiz Sérgio Moro. Segundo a filósofa Marilena Chauí, “o principal operador da Lava Jato foi treinado pelo FBI — o equivalente à Polícia Federal nos EUA — para conduzir o caso”.
Sob às vistas das Forças Armadas brasileiras, ao lado de uma campanha sórdida para desmoralizar e implodir a Petrobrás, foi instaurada a investigação do programa de construção do submarino nuclear brasileiro, que estava sendo tocado pelo almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva. O renomado cientista chegou a ser preso por ordem de Moro e o programa foi paralisado. Informa o jornalista Mauro Santayana que também “o controlador da empresa responsável pela construção do míssil A-Darter da Aeronáutica encontra-se detido”.

Ainda citando Santayana: “Essa situação está abrindo caminho para a entrega da indústria bélica brasileira a controladores estrangeiros, depois de anos de esforço da iniciativa privada e das Forças Armadas, para evitar que isso ocorresse”.

No âmbito da economia nacional, a Lava-Jato é responsável direta pela paralisação e reversão de grandes obras, sobretudo tocadas pela Petrobras: refinarias, plataformas e todo o Programa de Acelaração do Crescimento (PAC), que era financiado em sua maior parte pelos impostos pagos pela  principal empresa brasileira. O Brasil até bem pouco tempo, antes da Lava Jato, orgulhava-se de ser o segundo maior canteiro de obras do mundo”, só perdendo para a China. Navios, obras de irrigação e saneamento, ferrovias, rodovias, plataformas, moradias. Há quantos anos o país não surfava nessa onda de crescimento?

A Lava-Jato, em nome de uma suposta moralidade,  inviabilizou o país. A criminalização da política, a pretexto do combate à corrupção, já foi utilizada contra Getúlio e Jango no Brasil, na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler. Em época mais recente, já nos anos de 1990, jornais do mundo inteiro noticiaram a Operação Mãos Limpas, na Itália, num cenário que em muito se parece com o Brasil de hoje:  deu em Berlusconi. E a corrupção não foi varrida da Itália, ao contrário.

Ora, todo cidadão sonha com o fim da corrupção e a punição dos seus agentes, públicos e privados. Mas o argumento do combate à corrupção tem sido utilizado para outros fins. Em geral nos períodos de crise do capitalismo, para intimidar governos mais democráticos e justificar medidas de arrocho sobre o trabalhador. Ou coisa pior.

Hoje o Brasil estaria no “epicentro de uma guerra híbrida”, conforme analisa Pepe Escobar. O jornalista e cientista político explica que, nos manuais norte-americanos, “guerra híbrida” são as ações não-convencionais contra “forças hostis” a Washington. Ele destaca a centralidade da disputa em torno do pré-sal na origem do impeachment e analisa como se dá a cooptação dos super-ricos e das classes médias.

 O fato é que o golpe comandado por Washington e executado pelas elites mercenárias do país está roubando o nosso futuro. De dimensão continental, dono de recursos naturais e de uma biodiversidade única, o Brasil reúne todas as condições para se tornar uma das mais importantes nações do mundo. Mas está tomando o rumo do neocolonialismo e abrindo mão do seu destino histórico.

Nas décadas de 1940-50, o papel de militares nacionalistas como o General Horta Barbosa e Edgar Buxbaum foi crucial para a vitória da Campanha O Petróleo é Nosso” – que resultou na criação da Petrobrás, empresa estatal que sempre teve papel relevante na industrialização do Brasil e na transformação do país numa grande potência.

A descoberta do pré-sal atesta a excelência da Petrobrás. Ao anunciar a construção de um submarino atômico para proteger o país do inimigo externo, os militares brasileiros tinham a dimensão dessa riqueza. Portanto é um achincalhe e um deboche imperdoável que o entreguista José Serra, Ministro interino das Relações Exteriores, afirme publicamente que derrubar a Lei de Partilha “é uma medida patriótica”. Ora, a Wikeleaks já denunciou sua ligação com a petrolífera estadunidense Chevron.

Boa parte da classe política já entregou a alma ao diabo. Diz o Senador Roberto Requião que “convencer alguém de que o impeachment é uma asneira entreguista é fácil. Difícil é mudar um o voto que já foi negociado”.

Resta aos verdadeiros brasileiros as ruas. Façamos a nossa parte.

Fonte:  Emanuel Cancella é petroleiro, coordenador-geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e do Sindipetro-RJ. Fatima Lacerda é jornalista.

Rio de Janeiro, 15 de julho de 2016 

Autor: Emanuel Cancella, - OAB/RJ 75 300              
       
OBS.: Artigo enviado para possível publicação para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros órgãos de comunicação.







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