terça-feira, 15 de novembro de 2011

O que a greve dos petroleiros tem a ver com o derramamento de óleo na Bacia de Campos?

por Emanuel Cancella

Esse derramamento de óleo na bacia de Campos nos leva a algumas reflexões:

A possibilidade de acontecer na área do pré-sal o que aconteceu no Golfo do México. Os acidentes na indústria do petróleo não acontecem por acaso, acontecem na maioria das vezes por conta da produção predatória ou a produção a qualquer preço.

Veja o que diz Triângulo de Acidentes ou Triângulo de Risco: "Existe uma relação proporcional entre cada acidente catastrófico e outros de gravidade menor que geralmente o antecedem e funcionam como precursores e que estão na origem do chamado."

Aqui no Brasil três grandes acidentes reforçam essa tese. Em 1984 foi o acidente da plataforma de Enchova com a morte de 37 petroleiros. A causa principal? A corrida a qualquer preço para alcançar os 500 mil barris de produção por dia que o governo militar queria usar como propaganda.

Na época, o sindicato dos trabalhadores denunciava as péssimas condições de trabalho, a política de metas de recordes de produção, a falta de manutenção adequada e a condenação de alguns equipamentos, entre eles a válvula que vedava o poço em caso de blow-out que não estava em condições de operação, como as principais causas da explosão seguida de incêndio que resultou no acidente fatal.

Depois vieram os grandes derramamentos de óleo no Paraná e na Baia de Guanabara. No ano de 2000, na baia de Guanabara, 1,3 mil litros de óleo foram derramados prejudicando a flora e a fauna, principalmente a pesca, deixando milhares de pescadores a míngua.

No mesmo ano de 2000, quatro milhões de litros de petróleo cru atingiram o Rio Iguaçu, o maior do Paraná. Por sorte ou coincidência os petroleiros no momento desse derramamento de agora em Campos ameaçam no mês de novembro com uma greve nacional por tempo indeterminado.

Uma das principais motivações da greve é a exigência de mudanças na política de Saúde Meio Ambiente e Segurança – SMS, que tem acumulado nos últimos anos centenas de mortes na indústria de petróleo.

Os petroleiros exigem aumento do efetivo primeirizado, pois a maioria das mortes são de trabalhadores terceirizados. Os sindicatos pleiteiam também a constituição de um fundo (Clausula 128) a ser mantido pela Petrobrás e suas contratadas para indenizar as comunidades e as vítimas de acidente. É também pleito dos trabalhadores mudanças na política de treinamento de trabalhadores da Petrobrás e suas contratadas.

E o mais importante, que todo o petróleo seja nosso. Que todo o petróleo seja dos brasileiros e a Petrobrás 100% pública e estatal. Por quê? Primeiro porque todo esse petróleo foi descoberto pela Petrobrás que inclusive desenvolveu tecnologia inexistente no mundo. Segundo o risco de não encontrar petróleo na área do pré-sal é zero. Todos os furos executados pela Petrobrás no pré-sal encontraram óleo. Para barrar a produção predatória temos que tratar nosso petróleo de forma estratégica. Produzir sem correria. As multinacionais querem produzir de qualquer maneira para saciar sua dependência. Os EUA, por exemplo, só têm reservas de petróleo suficientes para mais dois anos.

E o mais importante: nós já somos auto-suficientes na produção de petróleo. Por que exportar petróleo como quer a direção da Petrobrás e o governo federal? Vamos continuar sendo fornecedores de matéria-prima para o mundo como fizemos com o pau-brasil, a borracha, a cana-de-açúcar, o café, os minérios e agora com o petróleo?

Alem de vender matéria-prima e depois importar produtos com valor agregado como temos feito ao longo de nossa história, corremos o risco de nos transformar no Golfo do México palco do maior acidente ambiental do planeta. A greve dos petroleiros encarna a luta de todo brasileiro em defesa dos trabalhadores e de um projeto justo, social e ambientalmente para o Brasil.

RIO DE JANEIRO, 15 de novembro de 2011

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