quinta-feira, 23 de julho de 2015

Petroleiros fazem greve em defesa da soberania do Brasil

por Emanuel Cancella

Petroleiros de todo o Sistema Petrobrás farão uma greve de advertência, de 24 horas, nesta sexta, 24 de julho.  A greve é em protesto contra a anunciada venda de ativos da empresa. Nesse mesmo dia estará reunido o Conselho de Administração da companhia. A principal pauta será o Plano de Negócios e Gestão para 2016. Já foi anunciada a venda de cerca de 13,7 bilhões de dólares (cerca de R$ 45 bilhões) em ativos, incluindo BR, navios, dutos, termoelétricas, campos de petróleo.
Os petroleiros dos 17 sindicatos, representados por suas duas federações – FNP e FUP – estão unidos e irredutíveis. Nos congressos da categoria aprovaram que, se o Conselho de Administração mantiver a proposta da venda de ativos, vão desencadear uma greve por tempo indeterminado, com ocupações de unidades, parada de produção e trancaço dos prédios administrativos.
Como em 1995, quando a categoria realizou uma greve de 32 dias contra a privatização da Petrobrás, também desta vez a principal motivação será a defesa da estatal brasileira e da soberania nacional.
A Petrobrás sempre foi o motor do desenvolvimento do país. Sem ela, o Brasil pára. Sozinha, a  empresa financia, através de seus impostos, cerca de 80%  das principais obras do PAC. A paralisação das refinarias que estão em construção e do Comperj já desempregou cerca de 85 mil trabalhadores. A venda dos principais ativos da empresa pode ser comparada a um verdadeiro “tsunami”. Avalia-se em cerca de um milhão o número de desempregados: é isso que deseja a sociedade? Privatização é sinônimo de desemprego em massa e achatamento de salários.
Se confirmada, a venda de ativos da Petrobrás também vai reduzir drasticamente as verbas que seriam destinadas à educação e a saúde públicas, já tão sacrificadas no Brasil.  Em 2013 foi aprovada uma lei que destina 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde.
Defender a Petrobrás e o Brasil é uma tarefa para todos os brasileiros e não apenas para os trabalhadores da empresa. O povo cumpriu o seu papel nas décadas de 1940-50, na  campanha “O Petróleo é nosso!”, garantindo a criação da Petrobrás.  Depois, na década de 1990, conseguiu impedir que Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB,  com apoio da grande mídia, principalmente da Globo, privatizasse completamente a Petrobrás. Algum estrago foi feito, com a Lei 9478/97, que institui os leilões e desmontou parte do Sistema Petrobrás. Mas a greve de maio de 1995, com amplo apoio dos movimentos sociais organizadores, sobretudo dos professores, estudantes e trabalhadores da universidades, conseguiu deter a privatização.  
Hoje, usando o pretexto da corrupção, estão de volta ao ataque aqueles que nunca desistiram de destruir a Petrobrás. São os vendilhões instalados em cargos de governo e no parlamento que escolheram trair o povo em favor dos banqueiros nacionais e internacionais e das petrolíferas estrangeiras. Eles estão desafiando os trabalhadores à luta e terão a resposta que merecem.  
Os petroleiros exigem cadeia para todos os corruptos e confisco dos bens desses ladrões. Não só os que vêm dilapidando a Petrobrás mas também os que estão envolvidos em escândalos ainda maiores, embora silenciados pela mídia: Zelote, Swsslikes, Trensalão, corrupção na FIFA, dentre outros. Por que apurar os desvios apenas na Petrobrás? Certamente para manchar a imagem da empresa diante da população e facilitar a destruição da companhia. Queremos a Petrobras e demais empresas livres de corruptos e corruptores, mas a serviço do país e do povo brasileiro.  
A Petrobrás é maior que seus detratores. Em 2006, desenvolveu tecnologia inédita no mundo e descobriu o pré-sal que já produz hoje cerca de 800 mil barris, o suficiente para abastecer, juntos, países como Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia.
Os “abutres” estão dispostos a tudo para meter a mão nessa riqueza que é do povo brasileiro e deve ser destinada a sanar os graves problemas sociais do país. Além da ameaça de venda de ativos, outra frente de ataque se instalou no Senado. José Serra (PSDB) pressiona pela aprovação do seu projeto (PLS 131/15), retirando a Petrobrás da condição de operação única do pré-sal e impedindo que detenha o mínimo de 30% de cada campo, como está previsto na atual Lei de Partilha.
O senador Serra estaria a serviço da petroleira estadunidense Chevron, segundo denuncia do Wikilleaks, publicada na Folha de São Paulo, em 2009. Na época, Serra não conseguiu se eleger e não pode cumprir sua promessa. Agora, em seu desespero servil para agradar os gringos, repete sandices como a publicada no blog Brasil 247, dizendo que “o dinheiro do pré-sal é imaginário.
A insistência em aprovar, a qualquer custo, o PLS 131, revela que ele estaria na condição de lobbista da Chevron, o que é uma vergonha nacional. Como senador da República,  Serra foi eleito para defender os interesses de São Paulo e do Brasil e não dos Estados Unidos!  
A sociedade brasileira foi para as ruas e garantiu a criação da Petrobrás quando o petróleo era apenas um sonho (décadas de 1940-50). Impediu, com a greve, a privatização da empresa na década de 1990. Hoje, com  a descoberta do pré-sal, as nossas reservas de petróleo são uma realidade que desperta a cobiça de outros países. O desafio é enorme. Só uma grande mobilização popular poderá deter o golpe e impedir que essa riqueza escoe pelo ralo.

*Emanuel Cancella é coordenador do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)

OBS.: Artigo enviado para possível publicação para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros órgãos de comunicação.

Rio de Janeiro, 23 de julho de 2015


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