domingo, 17 de maio de 2015

Brasil de Libra à Perimetral

por Emanuel Cancella
                
O sonho do governante no Brasil é fazer obras e licitações. Isso vale para o governo federal, estadual e municipal.  Todos, de alguma forma, se locupletam, seja através de propina ou, no melhor dos casos, para garantir financiamento de campanha. A presidente Dilma chegou a dizer, na campanha eleitoral de 2010, que privatizar o pré-sal seria um crime e que ele era nosso passaporte para o futuro. Em 2013, a própria Dilma manda leiloar o campo de Libra, o maior do pré-sal, a maior descoberta da Petrobrás em 60 anos e um dos maiores campos de petróleo do mundo. Dilma entregou 60% de Libra para a Shell, Total e duas estatais Chinesas, e a Petrobrás ficou com 40%. Para fazer o que contraria seu discurso de campanha, Dilma usou até as Forças Armadas para impedir manifestações no local do leilão. O que convenceu Dilma a mudar de idéia?

Em São Paulo, com os tucanos não é diferente. Os sucessivos governos do PSDB na capital financeira do país se envolveram de corpo e alma em negócios ilícitos no metrô. Na época, mesmo a obra com uma série de irregularidades, peitaram a sociedade e até o Ministério Público para prosseguir com a empreitada. Agora vem a baila a forte motivação dos tucanos: propina. E quem acusa é a empresa multinacional francesa Alstom que confessou ter distribuído U$ 6,8 milhões, entre 1998 e 2001, a governos do PSDB. 

Já o ex- prefeito do Rio, Cesar Maia, deu aulas sobre o tema, já que as obras como Linha Amarela e Cidade da Música tiveram seus valores até duplicados através de aditivos. As empresas ganharam a licitação com o menor preço e depois, através de aditivos, recebem vultosas compensações financeiras. O governador Sérgio Cabral, com as obras do Maracanã,  se comprometeu em derrubar o antigo Museu do Índio,  o estádio de Atletismo Célio de Barros  o Parque  Aquático Júlio Delamare,  e até em derrubar a terceira melhor escola municipal do Rio, a Friedenreich, e o prefeito do Rio Eduardo Paes achou bom. Cabral e Paes esbarraram na vontade popular e recuaram. Você acha que nessa empreitada a dupla priorizava o interesse da sociedade ou do consórcio  contratado?

Agora o prefeito do Rio derruba a Perimetral e constrói a Via Binário. Paes alegou que a Perimetral tira a beleza do Porto Maravilha. A perimetral não é bonita mas desafogou o trânsito no centro do Rio durante décadas e nada garante que essa Via Binário, enfiada goela abaixo do Carioca, vai resolver o problema. O certo é que a Perimetral já não dava mais conta do trânsito principalmente na hora do rush e era preciso ampliar o acesso ao centro do Rio. Mas por que derrubar de imediato a Perimetral? O prefeito não poderia aguardar um pouco os resultados da nova Binário? O problema é que a derrubada da perimetral já está contratada por alguns milhões de reais. Tem que derrubar ou derrubar. Se isso vai dar certo para Eduardo Paes é um detalhe, mas o contrato tem que ser respeitado!

Quem sabe tenhamos, no futuro, governantes que se preocupem mais com a sociedade e menos com os “negócios”?   

RIO DE JANEIRO, 05 de novembro de 2013

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