sábado, 23 de maio de 2015

Apesar da crise, 89% das campanhas salariais conquistam aumento real



Sexta, 22 Maio 2015

Apesar da crise econômica e da instabilidade política observada no primeiro trimestre deste ano, a classe trabalhadora conseguiu que 89,1% das negociações salariais realizadas no período fechassem com aumento real, ou seja, com reajustes acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Na hora de divulgar esse dado em sua manchete de capa da edição desta última quarta-feira (19/5), o jornal o Globo preferiu, no entanto, destacar o percentual minoritário dos 10.9% dos acordos e convenções que fecharam com reajustes abaixo do INPC entre janeiro e março de 2015. Eis um recorte da realidade bastante revelador do ponto de vista do empresariado cujos interesses o jornal, dessa forma, tão bem representa.

O jornal utilizou as informações apuradas no site salários.org.br, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego, para sustentar, em reportagem de página inteira, a tese de que a situação tenderia a se agravar ao longo do ano, em um cenário de futuro cada vez mais desalentador e frustrante para a classe trabalhadora. De acordo com o economista Paulo Jager, do Dieese, não é bem assim. É fato que a margem de acordos e convenções com aumento real (96,5%) e a média do valor concedido caíram este ano (até 1,6%) em relação a 2014 (até 2%), mas, segundo ele, a amostra utilizada na pesquisa não é suficiente para consolidar uma tendência. “Está cedo demais para essa avaliação”, disse. O levantamento do site Salários.org.br usou como base 2.121 convenções e acordos coletivos fechados este ano, por cerca de 50 categorias com data-base entre janeiro e março. Segundo o economista, a maioria das categorias fechará suas campanhas no segundo semestre, entre as quais as maiores, como petroleiros e bancários.

Para Jager, o cenário político neste segundo trimestre já não parece tão instável como se mostrou no primeiro. “A agudização da crise política levou a uma atitude conservadora das empresas naquele momento que talvez não encontre justificativas para se manter no decorrer dos próximos meses. Tudo leva a crer que o pior momento já passou”, avaliou. E acrescentou: “Essa análise que foi feita no Globo é perigosa porque é generalizante, quando nem todos os setores da economia têm tido o mesmo desempenho. Há setores, inclusive, com desempenho muito bom, como o setor bancário. E se é preciso reconhecer que o Brasil está pior do que esteve no ano passado, está, mesmo assim, bem melhor até do que muitos países da Europa”.

Mesmo sem fechar os olhos para os efeitos adversos da alta inflacionária, o economista do Dieese defende que, justamente por conta das pressões geradas pela crise, essa é a hora de os trabalhadores compreenderem a necessidade de se unirem ainda mais na mobilização em defesa dos seus direitos e de ganhos reais nos salários. “Não é porque a situação está de fato pior do que no ano passado que os trabalhadores devem se conformar e se submeter a reajustes abaixo do cálculo de reposição pelo INPC ou abrir mão de aumento real. Muito pelo contrário. Até porque a crise afeta tanto os trabalhadores, pelo aumento que provoca no custo de vida, quanto os seus patrões e estes, neste momento, querem é fazer de tudo para preservar a sua margem de lucro. Existe um ambiente desfavorável, o que não quer dizer que o fim das negociações tenha de ser ruim. Isso vai depender da capacidade de organização dos trabalhadores”, esclareceu.
Fonte: Agência Petroleira de Notícias

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