por Emanuel Cancella
Veja o vídeo desta matéria em: https://www.youtube.com/watch?v=BEj_NGPEfNI
Nós, do grupo “Maçons pela Democracia”, fomos surpreendidos e
chocados hoje com uma alucinante nota subscrita pela Associação Nacional Maçônica do
Brasil (sic)- ANMB, com o título “Salve, salve, 31 e março” referindo-se
ao Golpe Empresarial Militar de 1964 e manifestando “apoio incondicional às
Forças Armadas do Brasil, na pessoa do seu comandante geral, o excelentíssimo
presidente Jair Messias Bolsonaro” e convocando “a todos os brasileiros que
venham às ruas neste 31 de março, que se tornarão (sic) marco mais
importante das últimas três décadas da nossa nação” e termina com o slogan da
campanha do presidente em 2018: “BRASIL ACIMA DE TUDO E DEUS ACIMA DE
TODOS!”.
O grupo “Maçons pela Democracia” sempre deixou claro que não
é filiado nem subordinado a uma Loja ou Potência Maçônica determinada.
Pertencemos a diversas potências maçônicas e variadas oficinas, mas falamos em
nosso nome. Nossa obediência é aos princípios maçônicos, em sua mais alta
expressão, o que nos impõe que, como cidadãos e maçons, não permaneçamos
silentes e não venhamos a reagir aos descalabros que ocorrem em nosso Brasil.
É absolutamente inaceitável a iniciativa do grupo Associação
Nacional Maçônica no Brasil (Anmb), que divulgou uma nota nesta terça-feira
(30) convocando “todos os brasileiros” para um ato neste 31 de março e
manifestando “apoio incondicional” a Jair Bolsonaro.
Os princípios básicos das constituições dos países
civilizados são pautados pela tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade, cuja
origem inconteste está em nossa Ordem Maçônica. Em nossos rituais está
insculpida a obrigação de “combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e
os erros e glorificar o Direito e a Justiça”. Jamais poderia um maçom que honra
seu avental defender qualquer tipo de ditadura.
O Pavimento do Mosaico que existe em nossas lojas lembra de
forma insistente que estamos acima dos contrastes. A política partidária não
tem lugar nas lojas maçônicas, o que está definido em nossos rituais e
preceitos.
Como “livre pensador”, o maçom pode ser adepto de qualquer
religião ou corrente política, mas tem de respeitar as opções de seus
irmãos.Nenhum maçom, individualmente ou em grupo pode falar em nome da
Maçonaria. Essa falta de legitimidade torna vã qualquer tentativa nesse
sentido, reduzindo-a a uma peça de campanha de baixo nível político e
intelectual, que fala em “estado de direito” para justificar uma ditadura.
Para os que ainda não estão cientes, por ignorância ou má-fé,
lembramos o documento emitido em março de 2020, pelas potências maçônicas CMSB
E COMAB dirigidas às Obediências Maçônicas (Grandes Lojas e Grandes Orientes
Estaduais) a elas confederadas, que podem, essas sim, falar em nome da
Maçonaria no Brasil.
Para recordar a quem está precisando e confirmar este ponto
de vista, transcrevemos abaixo os pontos mais importantes na íntegra.
“As Obediências Maçônicas CMSB e COMAB, percebendo a intensa
repercussão nacional dos movimentos sociais e políticos, pertinentes à
“mobilização” popular marcada para o dia 15 de março de 2020, orientam a todos
os Irmãos a adotar cautela frente às diversas intenções e reivindicações do
evento.
A Maçonaria universal e secular vem ao longo dos anos
exercendo seu papel de transformação e equilíbrio na sociedade, para que todos
alcancem a felicidade.
Destarte, ela, enquanto instituição, não pode e não deve se
submeter a nenhuma ordem política partidária ou de governo, ou atos que possam
implicar na sua desmoralização e perda de credibilidade. A Maçonaria não pode
ser instrumentalizada.
Enquanto parte integrante da Sublime Ordem, as Potências das
Grandes Lojas e dos Grandes Orientes Independentes institucionalmente não
organizam e nem participam de eventos que possam ser questionados como
passíveis de ferir os conceitos democráticos. Em todos os momentos, mister se
faz a prudência, a sobriedade e a serenidade.
No nosso país, as instituições democráticas estão plenamente
ativas. Existe um sistema de regras, fiscalização e limites à disposição de
todos; existe a liberdade de julgar, criticar e expressar; existe a
possibilidade de se organizar, se reunir e se mobilizar contra os desmandos e
malfeitos.
Logo, é na democracia que aprendemos a conviver com as
oposições e os antagonismos. É onde se respeita os pensamentos, as crenças
diferentes e a diversidade.
Tais instrumentos devem ser acionados por qualquer cidadão ou
grupo associativo, pelas vias legais e normais, alertando a sociedade sobre
riscos e perigos, sem, no entanto, defender a eliminação de Poderes Democráticos
da República, tão duramente instituídos pelos brasileiros que antecederam as
gerações atuais.
Somos uma instituição cuja liberdade é uma das suas tríades -
jamais opressora, por isso não admitimos a ditadura, a tirania, os regimes
absolutistas, os preconceitos... Não convivemos com corruptos ou conspiradores.
Evento como as mobilizações de rua, com o chamamento da
população para ficar atenta aos desdobramentos políticos e econômicos são
extremamente positivos e demonstram uma sociedade vigilante e participativa,
contudo, tal posicionamento deve se dar espontânea e individualmente.
Não consigo mudar o mundo, nem é esta minha pretensão.
Utilizo-me da liberdade Republicana Democrática para indignar-me quando
necessário. (Gil Nunes).
Portanto, cada maçom é um cidadão livre que pode e deve atuar
segundo suas convicções, preservando o necessário equilíbrio e discernimento, a
fim de que se busquem soluções para toda a sociedade, sem fomentar quaisquer
dissensões ou divergências que possam levar a divisionismos em geral.
A Maçonaria, em voz única, deixa claro que está ciente das
suas responsabilidades, está alerta a todos os movimentos políticos, sociais e
de mobilização, se posicionando com veemência na defesa e manutenção das
organizações que garantam a vida, a liberdade, o direito de expressão, a
pluralidade de ideias e a cidadania, assegurando, assim, o estado democrático
de direito existente no Brasil.”
CASSIANO TEIXEIRA DE MORAIS (Secretário Geral da C.M.S.B.) e ARMANDO ASSUMPÇÃO LAURINDO DA SILVA (Presidente da XLVIII Assembléia Ordinária da CMSB e Grão-Mestre da M. R. Grande Loja Maçônica do Distrito Federal”).
Com um fraternal abraço, subscrevem esta V Carta dos Maçons Pela Democracia, em ordem alfabética,os irmãos: Álvaro Peixoto (MI), Antônio Teixeira (MM), Custódio Almeida (MM), Dener Coelho (MM), Emanuel Cancella (MM), Edivaldo Amorim Farias (MM), Enrico Salvatore (MM), Fábio Farias (MM), Fernando Silva Ayres (MI), Flávio Whatson (MM), Francisco Soriano (MI), Gilberto Palmares (MM), Gilson Gomes (MM), Guaraci Correa Porto (MI), João Pedro Saboia (MM), José Amaral de Brito (MI), Sergio Abad (MI), Paulo Ramos (MM) e Sebastião Calvet (MI).
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