por Emanuel Cancella
A esquerda só se une na cadeia. Isso já
virou uma máxima. No Brasil, na luta contra a Ditadura Militar, uns defendiam a
luta armada e outros não. Em 1983, a esquerda rachou na criação da CUT. O PCB
resolveu ficar fora da Central. Em 1985, o PT expulsou três parlamentares do
partido que “ousaram” ir ao Colégio Eleitoral, quando o Congresso elegeu
Tancredo Neves, que deu fim aos governos militares. Na época, a maioria do
Partido considerou que era um recuo inaceitável, em relação às eleições diretas
reivindicadas nas ruas. Tancredo morreu antes de tomar posse e Sarney
assumiu.
A esquerda também sempre bateu duro na
CLT criada por Getúlio Vargas, acusada de ter sido inspirada na
Carta del Lavoro, de Mussolini. Entende-se que poderia ser mais avançada, mas
hoje, diante de tantas ameaças, tornou-se um desafio garantir os direitos que
estão lá. A revista Veja chegou a publicar uma capa com o líder da Força
Sindical, hoje deputado federal conhecido como “Paulinho sem força”,
jogando a carteira profissional no lixo.
A esquerda brasileira, mesmo dividida,
é poderosa. Quando se uniu, conseguiu por fim à Ditadura Militar. A
campanha das “Diretas já” é outro belo capítulo escrito pelo povo brasileiro,
que só se tornou possível porque tivemos maturidade e unidade.
A maioria dessas lutas não teve
resultado imediato. Algumas delas, aparentemente derrotadas, levaram anos ou
até mesmo séculos para terem seus impactos sociais reconhecidos e analisados. A
luta de Zumbi dos Palmares contra a escravidão, a Coluna Prestes, a Revolta da
Chibata e tantas outras.
A greve dos petroleiros, em 1983,
em plena ditadura, foi uma demonstração de força dos trabalhadores.
Desafiaram os militares as refinarias de Paulinia (REPLAN) e do Recôncavo
Baiano (RLAM). Em Paulínia, mais de 200 petroleiros foram demitidos. Eles
permaneceram em praça pública, onde criaram um núcleo de resistência, um
movimento que culminou com a volta de todos os demitidos. Essa luta
impulsionou o surgimento da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Hoje a esquerda está dividida, enquanto
a direita tenta massacrar o ex-presidente Lula. Mas os ataques contra Lula vêm
de longa data. Desde a primeira eleição disputada pelo metalúrgico, em 1988.
São acusações ora infundadas ora ridículas, como em 1988, quando foi acusado de
ter presenteado alguém um com aparelho de som do tipo três em um, coisa que já
nem existe mais. Fora as denúncias fajutas de ex-namoradas, um falso sequestro
onde os sequestradores foram obrigados a usar uma camisa do PT, na véspera da
eleição, e tantos outros factóides e invencionices.
As baixarias continuam a se repetir. A
última foi um barco de lata comprado por d. Marisa por cerca de quatro mil
reais, um “iate”, na versão da velha mídia golpista, sem falar no apartamento e
no sítio que Lula, afinal, não comprou. Se não podem atingir ao próprio
Lula, apelam para a nora, o filho, o amigo.
Com certeza se a oposição de esquerda
se manifestasse, a direita golpista ia repensar suas práticas. Como a
maioria se cala.... Mas não tenho dúvidas de que, se ousarem prender Lula, as
ruas serão ocupadas. E não serão apenas os petistas, os movimentos sociais e as
centrais sindicais mais afinados com o PT. Será toda a esquerda. Afinal, na
cadeia ela se unifica. Essa é uma lição histórica.
Obs.: escrevi o texto, porem quem deu qualidade
a ele foi a competente e brilhante jornalista, Fátima Regina Lacerda, que
inclusive fez tese acadêmica sobre o tema.
Rio de Janeiro, 02 fevereiro de 2015
OAB/RJ
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Emanuel Cancella é coordenador do
Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da
Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
OBS.: Artigo enviado para possível
publicação para o Globo, JB, o Dia, Folha, Estadão, Veja, Época entre outros
órgãos de comunicação.
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