sábado, 16 de maio de 2015

Leilão de Libra

por Emanuel Cancella
Com o leilão de Libra, Dilma estará vendendo o petróleo daquele campo a cerca de R$ 1,00  o barril. É quase um terço do que custa uma passagem de ônibus!
Depois de 513 anos da chegada dos portugueses ao Brasil. Depois de  191 anos do Grito da Independência, os governantes do Brasil continuam a se comportar como marionetes nas  mãos do dominador estrangeiro.

Há mais de 500 anos os portugueses trouxeram bugigangas para domesticar os índios e trocar pelas riquezas da terra. Mas eram portugueses e não brasileiros. Séculos depois, no dia 7 de setembro de 1822, o Brasil teve que herdar a monstruosa dívida externa portuguesa, para que a “Independência” fosse assinada.

Em toda a história, a subserviência aos interesses externos têm sido a tônica. Agora os índios já não dominam mais o território (ao contrário, são oprimidos, encurralados e perseguidos pelos governos e elites endinheiradas).  Mas tanto quanto oprimem as etnias minoritárias, nossos governos se ajoelham desavergonhadamente diante dos norte-americanos, europeus e chineses, apesar dos discursos radicais, que parecem dizer o contrário.

As palavras da presidenta Dilma contra a espionagem norte-americana só vão ganhar credibilidade se ela suspender o leilão de Libra. Caso contrário, sua indignação vai parecer jogo de cena e marketing eleitoral.

Parece não restarem mais dúvidas sobre as intenções dos órgãos de espionagem norte-americanos (NSA e CIA). O alvo é o pré-sal. Nesse cenário, fica ainda mais  inaceitável manter o leilão de Libra, um dos maiores campo de petróleo do mundo.

O Sindipetro-RJ e as demais entidades nacionais e locais que se somam à campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso já consideravam criminosa a manutenção desse leilão, nas condições anunciadas. Inclusive somos coautores de um recurso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao lado da AEPET, reivindicando a anulação do edital de licitação de Libra, em razão das irregularidades contidas, todas com o objetivo de favorecer os consórcios concorrentes, em detrimento dos interesses da Petrobrás e dos brasileiros. Aliás, o TCU ainda não se pronunciou, o que acrescenta mais uma ilegalidade à conduta da ANP: publicar um edital de licitação em  Diário Oficial, sem que tenha sido aprovado pelo TCU.
Outra aberração é o valor fixado para o bônus. Quem vencer o leilão terá que pagar à União  R$ 15 bilhões. Mas se a própria ANP anunciou que Libra deve ter 14 bilhões de barris de petróleo, basta transformar em dólar para obter uma estimativa do valor real dessas reservas: cerca de 1, 5 trilhão de dólares. Com a ameaça de guerra na Síria o preço do barril no mercado internacional chegou a 135 dólares. Detalhe: o petróleo de Libra é de alta qualidade. E o Brasil estaria trocando essa reserva  por algo em torno de R$1,00 o barril? Quase um terço do valor de uma passagem de ônibus?
Talvez essas contas consigam explicar o tamanho da indignação daqueles que não aceitam a entrega das preciosas reservas de petróleo do país às petrolíferas estrangeiras. E pensar que a presidenta Dilma chegou a afirmar, durante a campanha eleitoral, que “o pré-sal é o nosso passaporte para o futuro”.
Se não for sensível ao apelo das ruas, espera-se que a presidenta ouça, pelo menos, a voz sensata dos senadores da CPI da Espionagem, instalada no dia 3 de setembro. Vários senadores já estão reivindicando a suspensão do leilão de Libra, por motivos óbvios:
 “Se há um mínimo de insegurança não é possível manter um leilão onde as cartas já são conhecidas por alguns concorrentes” – disse Vanessa Grazziotin (PC do B/AM).
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) classificou a nota de James Clapper como "reconhecimento de culpa" dos Estados Unidos e defendeu o cancelamento do leilão do campo de Libra como única medida cabível diante das denúncias.
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou nesta terça (10) requerimento pedindo audiência pública com as presidentes da Petrobrás Graça Foster, da ANP Magda Chambriard, com os ministros Celso Amorim, Figueiredo Machado, General Elito e Fernando Siqueira, vice-presidente da AEPET. A iniciativa foi de senadores que defendem a suspensão do leilão de Libra, Roberto Requião (PMDB-PR), Pedro Simon (PMDB-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Rollemberg (PSB-DF), dentre outros.
Em momentos como esses, vale a pena lembrar que o jornalista Barbosa Sobrinho sempre costumava encerrar os seus discursos com uma afirmação: “no Brasil, só  existem dois partidos, o de Tiradentes e o de Silvério dos Reis”. Vamos aguardar e observar quem está no lado de quem.

 RIO DE JANEIRO, 12 de setembro de 2013

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